"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

fevereiro 19, 2011

O sapo que queria ser sapo













por Sônia Arruda


Uma fábula para crianças de todas as idades

De seu sono longo de sapo
Despertou num certo dia
Se percebeu feito homem
Pois, de príncipe, nada havia


Também não era feio
Mas já não tinha verrugas
Nem papo e nem coaxava
E sentiu falta das rugas


De sua voz de trombeta
E de sua vida anfíbia
Da fuga possível pro brejo 
Saudade enorme sentia


Até com a feiura se acostumara
Era sapo há tanto tempo
Comer insetos e ser rejeitado
Não lhe causava tormento

Teve uma idéia inusitada
De fazer fábula ao contrário
Procurou uma mulher princesa
E tudo fez para conquistá-la


Cantou o melhor que pode
E sussurrou um verso triste
Que falava de um amor proibido
Que a versos, ninguém resiste


Assim, ela sucumbiu, sincera
Aos lamentos do sapo escondido
Na alma do homem aparente
E lhe beijou com amor sentido


E o homem despertou sapo
Com a pele toda verde e rugosa
E, por dentro, a fome de inseto
Que, para sapo, nada tem de asquerosa


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