"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

março 14, 2010

Hora Morta?



por Sônia Arruda


Há uma hora do dia
Quando deserta o que já foi pensado
E num sussurro rouca voz anuncia
Que todo plano deve ser adiado

Nessa hora estrangeira
Em que tudo em mim adormece
Sinto uma ilusão passageira
Minh’alma, aqui, se desconhece

Não mais estou em mim
Não essa Eu que é lucidez
De desejos internos somado
Ao que o outro vê com nitidez

Sou uma estátua partida
Perdida da própria visão
Cacos nadando soltos
No mar da pura intenção

Surge emocionada a tola idéia
De escrever como seria
Um abraço do oceano salgado
O amor, os pedaços uniria

E, dentro da hora morta
Uma espécie de fome convida
Para sorver com gosto essa pausa
A realidade é que só tenho essa vida

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