"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

maio 22, 2012

Sede II

por Sônia Arruda


Minha sede é inorgânica
E a água oferecida em taça
E nas tuas mãos em concha
Não lhe sacia em nada

Minha fome é uma memória
Que a mesa farta não supre
Meu sonho é desejo puro
Que a noite chega e não traz
Não traz o descanso seguro

Meu corpo forra os sentidos
De sede, de fome e de sonho
Disfarça as misérias e dores
Que misturam-se às vísceras
Confundem-se com sangue
Encharcam-se de humores

Minha pele é a capa sólida
Que a alma volátil abriga
E que se mostra sempre bela
Porte altivo e face amiga
Mas esconde feias mazelas

Pois feia é a sede e a fome
Quando não são saciadas
Feio é o espírito que vagueia
Junto às almas-penadas
Nas noites sem lua cheia


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