Despertou. E um cheiro
de recém-cortadas flores
invadiu as primeiras horas
confudiu-lhe o olfato
misturado ao mar de odores.
Os outros sentidos, aos poucos
despertavam, se libertavam
do emaranhado de lençóis
Lembrou-se do cheiro original
que convidou ao trampolim
e seduziu ao salto visceral
Lembrou-se, ainda,
do mergulho e da doce batalha
a aspereza contra a maciez
das peles, intenso atrito
música de gemidos, um só grito
A língua percorreu a boca
à procura do gosto misturado
em suores, humores e saliva
que, dos limites e da morte
sabia fazer esquecer
Mas não teve nenhuma sorte!
Com dificuldade de quem insiste
abriu os olhos, um por um
bem devagar... e não o viu
Num esforço de resistência
quis voltar ao vale dos sonhos
Tentou, tentou, não conseguiu!
(Mas as horas são inexoráveis
Se recusam a voltar pra trás)
E estava, assim, nesse embate
quando um cheiro forte de café
fez lembrar que a fome não negocia
Desembaraçou-se dos panos
E, sentada na cama, esperou
A saciedade arrumada na bandeja
Que o seu amado lhe trazia
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