"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

setembro 15, 2011

Nem sempre o medo é ruim

por Sônia Arruda

Tive medo de não encontrar
Minha sombra cinzenta conhecida
E virar um holograma, nada mais
Cópia potencial de mim mesma
Que, mesmo partida, se refaz


Tive medo das máscaras e das farsas
De toda a parte feia e mal escondida
E, no centro do nó da garganta atada
Medo do silêncio, depois da fala perdida

E tive medo, também
Do sorriso enviesado
Da palavra calculada
Do poema articulado
Da prosa bem pensada
De tudo o que afastava do real
E que, de mim, me afastava
Ou, se parecia que aproximava
Na verdade, encaixava mal

Tive medo dos artifícios e das fachadas
Que se apoderam de nós e pensamos
Serem essas coisas, por nós, usadas
Mentira! Essas coisas é que nos usam
Iludidos! Tolos que somos!

E o medo que tive não foi tirano
Nem sempre o medo é algo ruim
Esse medo, só preservou do engano
Me fez recuar ante o engodo
da história que escrevestes pra mim

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