por Sônia Arruda
Os pássaros atravessaram
O silêncio da madrugada
Depois que te matei com palavras
E te feri com densidade verbal
Impiedosa e íntegra
Brutalmente íntegra
Inutilmente íntegra
Dando a luz a mim mesma
Nas linhas puras do tempo
Não aprendi a camuflar
Com gestos ensaiados
A forma interna e tensa
Nem aprendi como usar
O véu cobertor dos enganos
E a esconder o pulso vivo
Sob a pele que me veste
Aprendi a ver na meia-claridade
A eternidade dos verbos essenciais
E a liberdade dolorosa da flor
Desnudada das suas pétalas
E a visão dessa total nudez
Fez brotar as letais palavras
Que, na noite, me atravessaram
Antes dos pássaros chegarem
"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"
Sônia Arruda
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