"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

novembro 01, 2009

Caranguejo



por Sônia Arruda


Sou caranguejo de imaginação versátil
Carapaça bem dura me protege
Ás vezes defende, às vezes, encarcera
E quando penso, deixo de compreender

Essa alma de crustáceo gosta do litoral
Mas se adapta a muitos ambientes
Mesmo no mangue se compraz e encontra um lar
E passeia amolecendo a rigidez da Terra

No rastro das minhas patas afiadas
Deixo escrito sempre inédito poema
Que as ondas desfazem sem piedade
Dando sentido à comunicação do mar

Sou aquilo que sinto e que protejo
Avanço e recuo... e do meu posto, observo
Num movimento, aparentemente, covarde
Observo, timidamente, teus passos

Nesse estado sentinela me desconheço e me torno
Apenas bicho com instinto e sem peconceito
Sem começo nem fim e sem essas questões fúteis
Sou só um corpo que deseja outro corpo

Me torno alma que precisa de outra alma
E, antes que a perca de vista pra sempre
Faço inclinado movimento, desvio pra trás, pro lado
E miro... em busca de teu pé amado

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