"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

agosto 05, 2009

Obsolescências



por Sônia Arruda


Não sei descrever o prazer imenso
que tenho em me despir de coisas.
Há tantos artefatos inúteis.
Pra que me serve um fogão, afinal?



Sempre implico com o excesso.
Tudo que não uso, não tem serventia.
Acúmulo vão, peso que impede caminhar

com passos largos, saltar poças, voar...


Por isso me liberto desses trapos,
peças de vestuário e arquivos eletrônicos,
móveis e lembranças empacotadoras.

Mas guardo as fotos e os livros.


Abrigo papéis que o tempo insiste em tingir.
Palavras e registros de um instante
adormecidos em papel brilhante.



Guardo aquilo que interessa,
que de verdade me soma à alma.

O resto supérfluo não fica nem no rastro.


Não fica nos versos que se derramam
em bueiros, fossas e ralos da memória
portas abertas para a libertação.

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