"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

agosto 06, 2009

Poema Urbano



por Sônia Arruda


Não, não sou bucólica!


Sou essencial animal urbano.
Meu céu é essa branca página
palavras aqui grudadas são estrelas
e esses versos, a única constelação.



Gosto do silêncio das cidades
quando a televisão se apaga
ao longe um carro passa, alguém gargalha
e nunca se está só (a solidão é opção).



Gosto de sentir novos cheiros
trazidos dos corpos e dos frascos
odores suados misturados
ao vento do desejo de conhecer.



Saboreio as cores inventadas
expostas nos cartazes,
nas paredes e nos muros entregues

ao meu olhar transeunte e atento.


Aprecio esculturas de cimento
construções que se erguem e implodem
submissas à insaciável necessidade

que, sem dó, as dinamita.


Vivo esse cenário móvel
O que serve de moldura, hoje ,
amanhã poderá não mais bastar.

Ah! mobilidade abençoada...

É isso que nos fascina,
a nós, animais urbanos
que faz com que um momento
seja único, não se repita jamais.

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