"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

julho 01, 2009

Do Avesso

por Sônia Arruda


Eu, do avesso virada
Corpo mudado independente de mim
Ser estranho que alimento e escovo os cabelos
(E mesmo assim não reconheço)



O que se encondia atrás da pele
Agora está exposto
E nessa volta pra dentro
Encontro a outra que habita em mim



A outra que só adivinhava
A autora dessa obra, a visceral artista
Essa que age em mim
E move cada passo que dou



É ela que produz os humores
A interessante dona das vontades
Que me chamava incansável
Há muito tempo tentava...



Mas, mascarada de palavras
Eu espantava sua voz de inseto
Zumbindo em meu ouvido surdo
Aos seus roucos apelos



E, agora eu a vejo inteira
Dos pés a cabeça vejo
A dona verdadeira da voz
Do silêncio e do sorriso



E a visão me agrada e convida
Ao mergulho orgânico
Sereia canta em todas as línguas
Que permearam múltiplos momentos



Mesmo o que passou despercebido
Aqui se transforma em notas
E, na vertigem me rendo e atravesso
Tantos ontens e cacos espalhados



E nesse caminho de volta
Nesse encanto de desviver
Encontro algo tão belo
Ah! Esse inevitável Ser!

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