"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

junho 20, 2008

Do Amor

por Sônia Arruda

Você me chegou assim
tão manso e decidido
inesperado e súbito
invadiu meu corpo
e meu sono, antes tranqüilo

chegou com rosto de criança
e idéias de quem já viveu muito
com riso cínico
de sátiro que dança na noite
com gestos ensaiados
que compõem teus personagens vários

chegou como quem vem do nada
e está de passagem
como a noite de lua cheia
que desperta fantasmas
como o desejo louco
que fere os sentidos
e me faz ser tua

então eu te descubro assim
tão belo... Narciso
cheio de cores e fantasias mis
que só vê seu próprio reflexo
mesmo se parece olhar para fora

então eu te descubro náufrago
ser solitário caminhando no vazio
da cidade grande e insensível
mas que te abriga sempre
sem te cobrar um nome

ah! quanta loucura incoerente
passa pela tua mente torta
e se ditruibui qual sangue e fogo
pelo teu corpo caliente, em brasa

quanta vontade ausente guardas
caminhando ao léu na estrada
alma andejante pisando
no silêncio da madrugada

eu, daqui te observo
apenas observo
teus gestos, teus sorrisos
teus passos de dança
alguns já meus conhecidos
e é tudo pura magia
ou feia realidade

tento, então, te seguir
com os olhos da emoção
mas teus passos apressados
me deixam confusa e perdida
e o rastro do teu cheiro
se confunde com o do vento
que me arrepia os pelos todos
ao passar veloz pelo meu corpo frio

desisto da busca
covarde que sou
pra só te encontrar de novo
em sonhos... ou pesadelos
pois sei que só existes na minha fantasia

Nenhum comentário: