"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"
Sônia Arruda
setembro 06, 2011
Ciclos
por Sônia Arruda
A menina que morava nos olhos
Espiou a imagem da mulher
(e gostou bastante do que viu)
Entendeu que o tempo é um mago
Mas não se bebe a vida num só trago
Mesmo que nos pareça, o feitiço
É trabalho cotidiano e intenso
Até que na flor apareça o viço
E na moça brote o desejo denso
A mulher que morava atrás dos olhos
Encontrou, no aço, uma face idosa
Tentou desviar, conteve o asco
Não se reconheceu de imediato
Pensou ser o tempo um carrasco
Mas a vida, não se bebe num só trago
Cada ruga é marca de gole doce
E também de algum gole azedo
E, se apagá-las, pudesse, nem assim
Faria com que a noite caisse mais cedo
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Um comentário:
Um lirismo impecável...
Impressionante coerência no desenvolvimento do texto.
Adorável espaço...
Muito belo poema.Parabéns...
O tempo e as suas vicissitudes.
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