"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

agosto 07, 2010

Releitura

por Sônia Arruda



Às vezes é preciso retornar
Retomar a história abandonada
Uma, duas, quantas vezes for preciso
Percorrer o caminho de volta
Nem sempre significa retrocerder

É preciso reler as velhas palavras
Numa tentativa de perceber
No espaço que sobra entre as linhas
Qualquer sinal, qualquer deslize
Que diga mais do que o que foi mostrado

É visceral recolher o material arquivado
E se debruçar sobre intocável tesouro
Pretensamente protegido se achava
De olhos mais agudos e paladar mais apurado
Que só o tempo nos presenteia

Desse modo, o coração secular
Irrigado por recentes energias
Conheça os detalhes que não percebeu
Desamparado do amor que pensou existir
No abraço nu de emoção que se deu

E entenda, enfim, na claridade do dia
Que não pertence mais a tal lugar
No mundo imaginário consagrado
E parta de forma legítima, solto de amarras
Livre e pleno no seu voo de despedida

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